Eu (não) desejo me movimentar – Parte 3

Ta pago?!

Nos textos anteriores estive no esforço de mostrar a importância de mudarmos nossos hábitos para um estilo de vida que ressoe saúde. “Um organismo está mais sujeito a prosperar num habitat semelhante ao habitat que ele evoluiu” (Santurbano – Curso funcionalidade Bio-Antropológica 2020). Na biologia evolutiva prosperar é um dos caminhos da qualidade de vida. Estar em situações de compatibilidade biológica é estar de acordo com a ciência que mostra o peso do tempo na formação do nosso organismo. As ações empregadas por um estilo de vida ativo, uma alimentação variada e mais fresca que respeite uma multicompossição de nutrientes, um respeito pelo alimento por ver nele a fonte da sua saúde e por estar intimamente responsável pela sua produção, uma relação de atenção e integração entre aquilo que chamamos de mente, e o que dizemos ser o corpo vão gerar respostas biológicas que estimulam o bom funcionamento deste nosso organismo. Mas quais são as consequências do distanciamento de um estilo de vida ativo e generalista?

Em um estudo sobre a fisiologia da inatividade física, publicado em 2012 por Ricardo Silvestre e colegas na revista de endocrinologia, diabetes e metabolismo, portuguesa, um pertinente questionamento é levantado sobre a normalidade: porquê algumas patologias são vistas como expressões normais da nossa fisiologia? “O sedentarismo é um estado ‘anormal’ para um genoma propagado para responder a uma estimulação fisiológica resultante da realização de exercício físico (…), a atividade física regular era uma parte integral na vida quotidiana da nossa espécie (…) [assim] quando o sedentarismo é a normalidade, existe uma regulação negativa deste fenótipo que se associa ao fenótipo economista”. A junção destes fatores propiciam o desenvolvimento de doenças metabólicas (resistência a insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia), estados pró-inflamatórios generalizados, doenças cardiovasculares (hipertensão, aterosclerose, isquemia), e musculo-esqueléticos (algumas doenças crônicas não transmissíveis), dentre outras. Porque então, não definimos primeiro que ser “normal” seria propiciar a expressão gênica que foi selecionada evolutivamente, resultante de um comportamento de vida ativo e não o contrario? Sair do sedentarismo é estar em uma situação de compatibilidade biológica.

Assim, estar em movimento em todos os seus campos, o movimento do pensamento, o movimento do corpo, o movimento dos encontros… Afastar-se de um comportamento sedentário não significa desprezar a ociosidade ou o descanso. É preciso ter folego para dar alguns saltos, é preciso ter coragem para criar novos valores. É preciso ter tempo para encontrar o prazer na contemplação. Desta corda esticada que chamaram de corpo, a qual faremos de ponte para atravessar este abismo, “quais serão nossos nãos, quais serão nossos sins, qual será nossa medida, nossa meta”? O quanto precisaremos tencionar essa corda para nos dar a sustentação da qual precisamos, qual a tensão a qual o corpo-corda será capaz de suportar, sem que se rompa? Será uma eterna obra de arte: fazer da sua vida uma obra de arte, tornar-se.

Mas, já que a “verdade” se faz com “ciências”, já que nossa sociedade se construiu e acreditou nesta única forma de manifestar a razão: como andam as ciências que buscam entender os impactos da inatividade física para essa tal de saúde? A maioria dos estudos são publicados de forma independentes e muitas vezes isso causava incongruências no uso dos conceitos. (pois ficava pergunta) Afinal, ser fisicamente inativo é o mesmo que ser sedentário? O quanto precisamos fazer de exercício para nos tornarmos fisicamente ativos? Assim, o instituto SBRN (que pode ser encontrado no site em ingles– Sedentary behaviour research network – aba resources – item SBRN terminology Português) foi desenvolvido com o intuito de alinhar os conceitos trabalhados por esse pesquisadores: Inatividade física é quando o individuo realiza um acúmulo de atividade física inferior às recomendações internacionais (há diferenças por faixa etária), para os adultos a recomendação é de se realizar um acúmulo mínimo de 150 minutos semanais (em atividade física de intensidade moderara a vigorosa) ou 75´ (de forma intensa) – mas alguns estudos mais recentes ressaltam que o tempo de recomendação mínima deveriam ser maiores (pertencentes a um intervalo de 180 a 300 para homens, e 150 a 300 para mulheres –pode ser encontrado no estudo de Pitanga e colegas, Atividade Física e o Coronavírus 2020); o termo Comportamento Sedentário classifica qualquer atividade cujo gasto energético é inferior ou igual a 1,5 MEts (que é o quanto de energia que o corpo consome em uma atividades, quando em posturas mais baixas que ficar em pé; como por exemplo assistir tv, mexer no celular, ler um livro, pintar, escrever, eu aqui); agora, a quantidade de tempo que gastamos exercendo essas tarefas de pequeno gasto energético foi definido como padrão de comportamento sedentário, ou seja, quanto tempo passamos em atividades cujo consumo energético do nosso corpo é muito baixo (que ainda pode ser de modo prolonger: acumulo continuo, ou Breaker: com interrupções). Bom, mas porque tento tragar estes conceitos? Porque daqui podemos esclarecer: é possível ter um comportamento sedentário mesmo que sendo fisicamente ativo, ou seja, passar longas horas do dia em uma atividade cujo gasto energético é muito baixo (<1,5MET), mesmo que “pagando” seu dizimo de atividade física; e de que a recomentação é para atividade física, e não exercício físico, este é apenas uma forma do outro, que lhe contêm. Mas então, quanto de cada seria preciso para ser saudável? Acredito que essa é uma péssima pergunta, mas infelizmente nossa cultura utilitarista quer sempre saber sobre o mínimo que é preciso para se manter saudável”. Saúde não é um estado fixo, e ela não se atinge com pagamentos de exercício, mas não é bem assim que se faz essa “ciência” se faz.

O que poderia ser pensado é que a ciência está, de alguma forma, tentando “provar” porque importa a quantidade de tempo que passamos fazendo algo que conflita com nosso determinismo biológico. Mas devido a armadilha do progresso caímos em uma situação de incompatibilidade biológica… Peço desculpas pelo excesso de “tecnicismo”, mas infelizmente ainda me sinto na necessidade de falar assim, por que isso ainda parece legitimar minha escrita, um disciplinado querendo “desciplinar-se” (faço assim não porque precisa ser, mas porque eu preciso, por enquanto… mas eu quero é dar movimento a isso, e é por estar nesse meio, que faço, nem que seja assim).

Seguimos… Num outro estudo, Patterson e colegas, em 2018 escreveram na Europe Journal of Epidemiology, uma revisão sistemática que tinha como objetivo encontrar o risco relativo de desenvolver doenças cardiovasculares, câncer e diabetes tipo 2 por dois perfis de pessoas: as com comportamento sedentário e pessoas que assistem TV, criando curvas “dose-resposta” entre estes comportamentos, as doenças, e a variável de atingir, ou não, o mínimo recomendado de atividade física. O primeiro grande ponto que o estudo me trouxe é que ser fisicamente ativo apenas atenua/ ameniza o aumento do risco relativo de desfecho de morte por doenças cardio-vasculares (DCV) e incidências de diabetes tipo 2 (DT2) quando em “auto” acumulo de horas nestes comportamentos, independentemente de praticar ou não atividade física; ou seja, todos os sujeitos que tem estes comportamentos tem risco relativo aumentado, mas se atingem o mínimo de atividade física o aumento é mais tênue. Tentando entender qual o “limiar” de quantidade de tempo, o Threshold (o valor alvo do qual devemos tentar nos manter longe) é de 6-8h sentado por dia, e 3 a 4 hs vendo tv. O maior risco foi encontrada entre tempo de TV e DT2, com tão forte correlação que qualquer diminuição nas horas passadas nesta atividade traria redução da modulação negativa de forma significativa. – se mais uma vez vier a necessária pergunta: de que isso me importa? vale experimentar contar quantas horas do tia passamos na frente de uma TV e quantas horas passamos sentado, porquê podemos ver o quanto que esse comportamento aumenta o risco de desenvolvermos essas doenças, já que é isso o que importa.

Hoare e colegas, em 2016 publicaram na International Journal of behaviour Nutrition and Physical Activity uma revisão sistemática que buscava entender a correlação entre o tempo acumulado em uso de telas (de forma recreativa) e a repercussão na saúde mental dos adolescentes. “Os comportamentos propiciados pelo desenvolvimento tecnológico e o estilo de vida sedentário modernizado representam uma grande preocupação de saúde, pois esse habito aumenta os riscos de doenças associadas à inatividade física, como obesidade e outras Doenças crônicas não transmissíveis” a revisão sistemática trouxe que “estão aumentando as evidências de correlação entre tempo de tela para lazer e estados de saúde mental mais vulneráveis em adolescentes” .

Bom, mas e porque tanta preocupação com a diminuição do nível de atividade física? Porque ela é uma meta de ação global em saúde que, claramente, não estamos sabendo contornar. Porque ela é um problema agravado pela vida moderna pós-industrial, que vem crescendo desde nossa revolução agrícola (os últimos 4% da história da nossa espécie). Aqui o tempo tem uma densidade enorme. Já houve outros momentos em que eu disse que parecemos negar a realidade por nos colocarmos como incapazes de muda-la. Isso acontece nas pandemias. Inventamos um “novo-normal” só para que a gente possa permanecer no mesmo lugar: sedentários. Sei que pareço estar me referindo a esta pandemia do COVID 19, porque também estou, mas quantas outras pandemias “não existem” porque não afetam a gente? Falo agora de outra pandemia, ainda mais antiga. A inatividade física é uma pandemia. Uma das mais renomadas revistas em saúde, a Lancet, publica periodicamente uma serie de artigos a respeito do tema (nem precisava dizer que demorou, né?). O quinto texto desta série, das publicações feitas em 2012 apontam que a priorização das políticas públicas se sustenta em três indicadores: prevalência e tendência de um distúrbio de saúde, a magnitude do risco associado a ela, e evidencias para controle e prevenção eficazes. A inatividade física já foi considerada a 4ª causa de morte no mundo. Evidencias do seu benefício existem desde 1950 – mais um absurdo dessa nossa ciência prepotente, que se diz descobrir um marco apenas porque ela o produz, desprezando ciências milenares a respeito do cuidado, enfim, eles esclarecem: “Os motivos para esse atraso são complexos e multifatoriais”.

Uma das referencias deste estudo traz que 6% a 10% das mortes no mundo podem ser atribuídas à inatividade física. Com atribuições ainda maiores para doenças especificas (30% das causas de doenças isquêmicas do coração, por exemplo). No momento em que este texto foi escrito, a pandemia de COVID-19 que enfrentamos causou a morte de 1.792.251 pessoas, e contando… em 2007 estimasse que 5.3 a 5.7 milhoes de mortes causadas por doenças não transmissiveis poderiam ter sido, teoricamente, reduzidas com adequados enfrentamentos à inatividade física. Por isso a inatividade física é considerada uma pandemia. Por isso ela é um problema de saúde pública mundial do qual as ações tecidas para este enfrentamento não estão surtindo os efeitos necessários; “a inatividade física é um dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis, sendo responsável por cerca de 3,2 milhões de mortes por ano”, dados também publicados na Lancet, que parecem contraditórios mas permanecem exorbitantes. Mas mais uma vez, querer reduzir a saúde aquilo que precisaríamos fazer ao “mínimo” para reduzir as chances de doenças já conhecidas e estudadas é pouco. “a pratica de atividade física é muito mais que um recurso para reduzir riscos de doenças crônicas não transmissíveis, é um direito humano básico” (citação de tradução livre). A inatividade física é uma das principais causas de morte no mundo, e deve estar dentre os 4 principais pilares de enfrentamento contra doenças não transmissíveis. E ainda cabe muita discussão pois o embate a esta pandemia visa como marcador a pratica de atividade física, e não a diminuição do comportamento sedentário (que embora pareçam concomitantes, ouso dizer que um pode estar alimentar o outro). Assim, imagino ter dado argumentos suficientes sobre o peso que tem o tempo acumulado em comportamento sedentário, e por não sermos fisicamente ativos, e os impactos disso na nossa “saúde”. Mas estas séries da Lancet serão resgatadas no próximo texto, quando falarmos sobre “o que podemos fazer”, mas até lá, segura essa prévia: parte das respostas do porque nossas ações não estão surtindo efeito é porque “os esforços estão concentrados na saúde individual, e não em uma ênfase na saúde pública da população”.

Mas então, se nossa ciência prova a importância da compatibilidade, se nós dizemos estar sempre a procura da saúde (que é tipo um evitar doenças), como seria possível termos criado um ambiente que diminuiu nossa potencia de prosperar saúde? Desaguamos aqui no segundo conceito deste texto: a Armadilha do Progresso se faz presente quando o conforto se torna mais “importante” que a saúde.

E como isso chega à nossa vida? De forma sutil, claro. E isso nos traria problemas? “Obvio!”

Estamos cercados de luzes que atrapalham o nosso sono. Não temos tempo para fazer as próprias atividades das quais necessitamos, encontramos formas de economizar tempo e nesta economia gastamos mais tempo e não gastamos energia alguma. Não sabemos o que comemos, e nos fazem parecer contentes por ter a “livre escolha” de pegar um produto dentre as opções que as prateleiras de mercado nos oferece – desde que possamos pagar por elas. Vivemos em situações de estresse sustentados. Perdemos a conexão com o coletivo. Nos deslocamos parados. Somos feitos de manequim aos desejos dos outros. Trabalhamos fora do nosso ciclo circadiano, com prejuízos comprovados a nossa saúde, em troca de “adicionais noturnos” que provam a desvalorização dentre as classes trabalhadoras, são inúmeros os exemplos de armadilha do progresso.

Deserto alimentar é o conceito usado para expressar a condição social na qual o acesso a uma alimentação in-natura dista mais de 400 m do seu lugar de moradia. Quer dizer então que nossa “desurbanização” fez com que aquilo que se produzia em casa se tornasse distante e inacessível (e adivinha, quando maior a desigualdade, quanto maior a vulnerabilidade social mais distante as pessoas se encontram desses mercados), AmarElo Prisma podcast, Movimento I, do laboratório fantasma. E para aquelas pessoas que não se encontram nestes desertos, como é que se deslocam até estes “postos de alimentos”? Em bolhas. Demos outro jeito para nos mantermos sedentários, mesmo que em deslocamento -> a velocidade sempre foi um conceito relativo, e a distancia também.

Lembra?! “Se nossos corpos tiveram os comportamentos selecionados por um ambiente que nos exigia uma ampla variabilidade motora e capacidade de sustentar uma atividade por longos períodos, nossa relação com o alimento se estruturava por meio do habito de procurar por alimentos, caçar, deslocar longas distancias (forragear), ações das quais somos capazes de fazer, mas não sem ‘custos’ ‘’. E é neste “custo” que está o consumo energético do nosso próprio corpo. O custo da ação, que não é uma dívida a ser paga, é o custo que você paga e você recebe, sei la é tipo uma mais valia que no caso quem ganha é você mesmo, não o outro. Ao exercermos essas atividades, o nosso genoma gera sua estimulação fisiológica benéfica ao nosso organismo. Em média, uma caça durava de 3 a 5 h, e o alimento caçado ofertava, no mínimo, 26 x mais energia do que gastamos no processo – ou seja, recompensador, claro; mas arriscado e difícil, tanto que a caça estava mais para uma pratica semanal do que diária. O que era diário era o habito de forragear. Hoje vivemos num comportamento injustificável de economizar tempo (fomos condicionados a esse desejo que se estrutura nas faltas), esse comportamento nos faz perder mais tempo por esperar o elevador chegar; optamos até mesmo por contrariar recomendações preventivas da pandemia porque parece que a escada se tornou um espaço inexistente nestes edifícios de empilhamento humano. Hoje, nem mesmo vamos buscar nossas comidas, uma nova bolha de transporte foi criada, talvez nos fosse o sonho ir sentados (ou então, porque não criar um novo emprego? pagar um “adicional” para receber à porta, isso já acontece, e não se paga, se explora, como sempre).

“De 1975 a 2016, a prevalência mundial de obesidade praticamente triplicou (…) aumentando em países de baixa e média renda, não sendo mais um problema apenas dos países mais ricos” (Pitanga e colegas, Ver. Brasileira de atividade física e saúde 2020) – os conservadores piram em ver que o desenvolvimento econômico cria doenças, assim, de forma bem “contraditora”, ou não, nivelou-se por baixo (não foi a primeira vez que a colonização produziu doenças nos países colonizados, e nem seria essa a mais preocupante). Voltemos à outra série de estudos publicados na Lancet desde 1990, que busca evidenciar os impactos das doenças crônicas não transmissíveis na vida da população mundial (série Global burden of dissease).

Anos de vida com incapacidade (Years lived with disability – YLDs) é um conceito tardio que surge dos estudos em saúde pautada no impacto que uma dada condição gera na vida da pessoa (prevalência x tempo de incapacidade gerado pela condição). A pergunta que coloco é: porque tecemos tantos esforços para impedir a morte, mas fazemos tão pouco pelo como se vive? É obvio que nossa ciência precisa se focar nas doenças infectocontagiosas, afinal é daí que surge essa medicina europeia. A medicina que diz trazer a luz, mas não é nada mais do que uma massa que voa em direção à única luz que consegue enxergar; e como toda matéria que se aproxima de um foco luminoso produz sombra, é normal valores transcendentes negarem a terceira margem; mas o que esta massa quer encobrir? o que cresce nas/ das sombras? É comum, como no ano em que vivemos políticos querendo impor valor moral à saúde através da economia, e nossa ciência mostra de forma muito simples e clara: cuidar da saúde como andamos cuidando é incompatível com a economia (mas sabemos bem quem lucra com as crises). Nos EUA, o custo com dores crônicas já é ¼ de todo o gasto em saúde do país, estima-se uma quebra do sistema estadunidense dentro de 15 anos (ou seja, mais uma vez uma crise de um sistema privado, que vai dar seu jeito de lucrar com a própria crise às custas da saúde da população que deveria cobrir, dá-se o prefixo neo ao mesmo sistema e acreditaremos viver em tempos de prosperidade, cria-se outra forma de conservar o mesmo sistema, e assim, permanecem os mesmos no mesmo – sedentários, temem pelo novo, tentam consumir o que não podem controlar). É preciso continuar a gritar: Saúde não é mercadoria! “No ato produtivo, o trabalho em saúde é vivo, é acontecimento, é ação, e é pautado pelas relações entre usuários e profissionais, assim como entre profissionais (…) e na gestão. Trata-se de um campo de produção não material, cujo produto é indissociável do processo que o produz, é a própria realização da atividade” (Fisioterapia & atenção primária à saúde, Cap 3, pg 47). A saúde como causa imanente de uma vida que se cria pelo próprio indivíduo ativo do seu processo de cuidado. Talvez, nós profissionais deveríamos ser deposto do púlpito que nós criamos e nos colocamos como detentores do saber. Deveríamos nos desapegar desse poder, e nos portar como coadjuvantes deste processo de fazer saúde. 

Isto (não) é uma denuncia, isso (não) é uma revolta. Isso não é pessimismo muito menos um julgamento do que fazemos. Isso é a minha inquietude. Porque como podemos saber disto, e ousar dizer que nós nos preocupamos com saúde e achamos como caminho para isso essa produção cientifica que só escutamos quando convém, que se sustenta colonizando saberes! Não podemos ousar dizer que é por motivos econômicos, isso é antieconômico. Este texto é um processo de elaboração para entender a minha própria angústia. Como poderíamos fazer mudar? Porque já está claro que não basta saber. Porque não é deste saber-poder, pelo qual me pergunto. Me pergunto o que preciso eu saber pra poder fazer?! Saber-Fazer primeiro a mim, Saber-Fazer de mim. E a minha resposta se inicia com uma pergunta: porque terceirizamos nossa saúde?

Como poderíamos afundar as camadas que sustentam essa massa? Como poderíamos produzir fogo das nossas Brazas? Quais luzes merecem ser vistas, como criar novas luzes, ou então esquecelas para que se possa enxergar de outra forma, como dar voz aquilo que se quer calado? No próximo texto irei tentar apresentar uma visão mais propositiva: o que podemos fazer para propiciar nossos movimentos? Uma pergunta que não busco trazer fim, as respostas são infinitas, e quanto mais singulares elas forem, talvez mais capazes seremos, e quanto mais capazes formos, mais possibilidades teremos, vamos juntos?!

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